México Envia Líderes de Cartéis aos EUA Sob Pressão de Tarifas Americanas

México Envia Líderes de Cartéis aos EUA Sob Pressão de Tarifas Americanas
Cidade do México, 28 de fevereiro de 2025 – Em um movimento surpreendente, o governo mexicano extraditou 29 figuras proeminentes do crime organizado para os Estados Unidos na quinta-feira, dia 27, em meio a crescentes tensões com a administração do presidente Donald Trump. A decisão, uma das maiores transferências de suspeitos de narcotráfico da história recente do país, ocorre enquanto autoridades mexicanas tentam evitar a imposição de tarifas de 25% sobre todas as exportações para os EUA, prometidas por Trump para entrar em vigor na próxima semana, em 4 de março. Entre os extraditados estão nomes notórios como Rafael Caro Quintero e os irmãos Treviño Morales, figuras lendárias no submundo dos cartéis.
A operação, confirmada por um comunicado conjunto do Ministério da Segurança e da Procuradoria-Geral da República do México, foi executada com rapidez e sigilo. Os suspeitos, muitos deles detidos há anos em prisões mexicanas, foram retirados de diversas penitenciárias e transportados em aviões para oito cidades americanas, incluindo Nova York, Chicago e Houston. A lista inclui Rafael Caro Quintero, de 72 anos, ex-líder do Cartel de Guadalajara e acusado pelo sequestro, tortura e assassinato do agente da DEA Enrique Kiki Camarena em 1985. Outros nomes de peso são Miguel Ángel Treviño Morales (Z-40) e Omar Treviño Morales (Z-42), ex-comandantes do violento cartel Los Zetas, conhecidos por táticas brutais como a dissolução de rivais em ácido.
A extradição em massa acontece em um momento crítico nas relações bilaterais. Desde que assumiu seu segundo mandato em janeiro, Trump intensificou a pressão sobre o México, exigindo ações mais duras contra o tráfico de fentanil, a migração ilegal e as operações dos cartéis. A ameaça de tarifas, que impactariam uma economia mexicana altamente dependente do comércio com os EUA – avaliado em mais de US$ 800 bilhões anuais –, parece ter sido o catalisador para a decisão. Os cartéis estão matando nossos jovens com drogas, e o México precisa fazer mais, declarou Trump na quinta-feira em sua rede social Truth Social, reiterando que as tarifas entrarão em vigor caso não veja progresso suficiente.
Analistas enxergam a entrega dos criminosos como uma concessão estratégica do governo da presidente Claudia Sheinbaum, que assumiu o cargo em outubro de 2024. É um gesto claro para aplacar Trump e ganhar tempo nas negociações, avalia David Saucedo, especialista em segurança mexicano. A visita de altos funcionários mexicanos, como o chanceler Juan Ramón de la Fuente, a Washington nesta semana reforça essa percepção. No entanto, a medida também levanta preocupações internas. Críticos apontam que o México pode ter contornado processos judiciais formais, já que alguns dos extraditados, como Caro Quintero, tinham recursos pendentes contra suas transferências. Isso mina a independência do Judiciário e expõe uma submissão preocupante aos EUA, argumenta o advogado Juan Manuel Delgado, que representa os irmãos Treviño Morales.
Do lado americano, a Justiça celebrou a operação. Esses indivíduos enfrentam acusações graves, incluindo tráfico de drogas, assassinato e lavagem de dinheiro. Vamos processá-los com todo o rigor da lei, afirmou a procuradora-geral Pamela Bondi em comunicado. Para a DEA, a entrega de Caro Quintero é especialmente simbólica. Esse momento é pessoal para nós, que nunca esquecemos o sacrifício de Kiki Camarena, disse o chefe interino da agência, Derek Maltz. Nos EUA, Quintero pode ser julgado não apenas por tráfico, mas também pelo assassinato de Camarena, algo que dependerá das condições do transfer – termo usado pelo governo mexicano, evitando a palavra extradição.
A medida, porém, não é isenta de riscos. Especialistas alertam que a retirada de líderes históricos pode desencadear uma reorganização violenta entre os cartéis remanescentes, especialmente em estados como Sinaloa e Tamaulipas, onde facções rivais disputam território. Os grupos criminosos não vão ficar de braços cruzados. Pode haver retaliação contra o governo mexicano, prevê Saucedo. Além disso, a percepção de que o México cedeu à pressão externa pode alimentar críticas ao governo Sheinbaum, que já enfrenta desafios para consolidar sua estratégia de segurança.
Para os EUA, a entrega dos 29 suspeitos é uma vitória diplomática de Trump, que reforça sua narrativa de mão dura contra o crime transnacional. No México, contudo, o custo político e social dessa decisão ainda está por ser calculado. Enquanto as negociações sobre tarifas prosseguem, o destino desses chefes do narcotráfico nas cortes americanas – e as consequências em solo mexicano – manterá os dois países sob os holofotes nos próximos meses.