Gleisi Hoffmann: Disciplina e Firmeza na Visão da Equipe Econômica do Governo

Gleisi Hoffmann: Disciplina e Firmeza na Visão da Equipe Econômica do Governo
Brasília, 28 de fevereiro de 2025 – A nomeação da deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) para o comando da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem gerado intensas discussões no meio político e econômico. Dentro da equipe econômica do governo, a futura ministra é vista como uma figura que alia disciplina e um perfil linha-dura, características que podem moldar a articulação política e a gestão fiscal nos próximos anos. Essa percepção, compartilhada por fontes próximas ao Palácio do Planalto, reflete tanto a confiança na capacidade de Gleisi de alinhar os interesses do governo quanto a expectativa de que ela traga um freio às demandas por gastos desenfreados.
Gleisi, atual presidente nacional do PT, assume a pasta responsável pela ponte entre o Executivo e o Congresso em um momento delicado, com a aprovação do governo em queda e a necessidade de aprovar medidas econômicas impopulares no horizonte. Segundo integrantes da equipe econômica, ela é reconhecida por sua ética pública e por uma postura que combina fidelidade às orientações de Lula com uma determinação ferrenha em manter a linha do governo. Gleisi é disciplinada no cumprimento do que é acordado e não vai ceder facilmente às pressões por emendas parlamentares irrestritas, revela uma fonte do Ministério da Fazenda, sob anonimato. A expectativa é que ela contenha a expansão de despesas que poderiam comprometer o ajuste fiscal defendido pelo ministro Fernando Haddad.
A escolha de Gleisi também é vista como uma resposta ao perfil mais político que Lula deseja imprimir à sua gestão, especialmente após críticas à condução técnica excessiva de alguns ministros. Diferente de nomes cotados anteriormente, como José Guimarães (PT-CE) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL), que poderiam adotar uma postura mais conciliatória com o Congresso, Gleisi chega com a fama de ser linha-dura nas negociações. Ela não joga o jogo da Câmara como os outros fariam. Vai impor a agenda do Planalto com rigor, avalia um economista ligado ao governo. Essa característica, acreditam os técnicos, pode fortalecer a posição de Lula em temas sensíveis, como a reforma tributária e a contenção do déficit público.
O histórico de Gleisi reforça essa visão. Durante sua passagem como ministra-chefe da Casa Civil no governo Dilma Rousseff (2011-2014), ela enfrentou crises com firmeza, ainda que tenha sido alvo de críticas por sua postura combativa. Na presidência do PT desde 2017, Gleisi conduziu o partido em momentos turbulentos, como a prisão de Lula e o impeachment de Dilma, mantendo a militância unida com discursos assertivos e uma defesa intransigente das bandeiras petistas. Agora, a equipe econômica aposta que essa mesma determinação será canalizada para alinhar o Congresso às prioridades do governo, sem abrir mão do controle orçamentário.
Nem todos, porém, compartilham desse otimismo. O mercado financeiro reagiu com cautela à nomeação, com o dólar subindo e o Ibovespa registrando queda na manhã do anúncio. Investidores temem que a ala mais à esquerda do PT, representada por Gleisi, ganhe peso em detrimento do ajuste fiscal prometido por Haddad. A percepção é que ela pode priorizar o projeto político de 2026 sobre a responsabilidade econômica, comenta André Matos, CEO da MA7 Negócios. Essa tensão reflete o histórico de divergências públicas entre Gleisi e Haddad, como na disputa sobre a reoneração dos combustíveis em 2023, quando ela defendeu a prorrogação da desoneração contra a posição da Fazenda.
Dentro do governo, no entanto, prevalece a confiança de que Gleisi vestirá a camisa da gestão Lula, deixando de lado as críticas que fazia como presidente do PT. Qualquer decisão divergente da Fazenda será por orientação direta do presidente, não por iniciativa dela, garante uma fonte da equipe econômica. Essa disciplina, segundo aliados, é o que a diferencia: Gleisi não age por conta própria, mas executa com precisão o que lhe é delegado.
À medida que assume a SRI, Gleisi Hoffmann carrega consigo a expectativa de ser uma articuladora implacável, capaz de equilibrar as demandas políticas do PT com as necessidades fiscais do país. Para a equipe econômica, sua disciplina e firmeza são trunfos em um governo que precisa recuperar popularidade sem perder o controle das contas públicas. Resta saber se essa visão se traduzirá em resultados práticos ou se as tensões com o mercado e o Congresso transformarão sua força em um novo ponto de atrito. Por ora, Gleisi é a aposta de Lula para dar musculatura política a um governo em busca de rumo.