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Vacina Surge como Aliada na Prevenção do Câncer Anal em Meio a Aumento de Casos

Vacina Surge como Aliada na Prevenção do Câncer Anal em Meio a Aumento de Casos

São Paulo, 28 de fevereiro de 2025 – O câncer anal, uma doença que vinha sendo negligenciada nas discussões de saúde pública, está em alta no Brasil e no mundo, mas especialistas apontam que a vacinação contra o papilomavírus humano (HPV) pode ser uma ferramenta eficaz para reverter esse cenário. Dados recentes do Instituto Nacional do Câncer (Inca) mostram um aumento de 20% nos diagnósticos entre 2020 e 2024, com cerca de 2.500 novos casos projetados para 2025 no país. Diante disso, médicos intensificam o alerta: a prevenção, liderada pela vacina disponível no SUS e na rede privada, é o caminho mais promissor.

O câncer anal é causado principalmente pelo HPV, vírus sexualmente transmissível responsável por mais de 90% dos casos, segundo a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP). Outros fatores de risco incluem infecção por HIV, tabagismo e histórico de doenças sexualmente transmissíveis, mas o HPV, especialmente os subtipos 16 e 18, é o grande vilão. “Esse é um câncer evitável. A vacina contra o HPV, se aplicada antes da exposição ao vírus, pode reduzir drasticamente a incidência”, explica a coloproctologista Ana Clara Ribeiro, do Hospital Sírio-Libanês.

A vacina quadrivalente, que protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV, está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2014 para meninas de 9 a 14 anos e desde 2017 para meninos na mesma faixa etária. Adultos até 45 anos também podem buscá-la na rede privada, onde a versão nonavalente – que cobre mais cinco subtipos – é oferecida por cerca de R$ 800 por dose, com um esquema de duas ou três aplicações. Estudos internacionais, como um publicado no The Lancet em 2023, mostram que países com alta cobertura vacinal, como a Austrália, reduziram em até 70% as lesões pré-cancerosas relacionadas ao HPV, um indicativo do impacto potencial na prevenção do câncer anal.

No Brasil, porém, a adesão à vacina ainda é baixa. Em 2024, apenas 58% das meninas e 43% dos meninos elegíveis tomaram as duas doses recomendadas pelo SUS, segundo o Ministério da Saúde. Há um tabu em torno do HPV, muitas vezes associado só ao câncer de colo do útero, e isso faz com que o câncer anal fique fora do radar, diz Ribeiro. A falta de campanhas educativas e a desinformação, como mitos sobre efeitos colaterais, também afastam os pais da imunização dos filhos. A vacina é segura e eficaz. Não causa HPV nem outros problemas graves, reforça o infectologista Marcos Vinicius Silva, da Fiocruz.

Os números crescentes do câncer anal acendem um alerta. Diferente de tumores mais comuns, como os de mama ou próstata, ele é silencioso em estágios iniciais, com sintomas como sangramento, coceira ou dor aparecendo tarde demais. Quando o paciente procura ajuda, muitas vezes o tumor já está avançado, o que reduz as chances de cura, explica Ribeiro. O tratamento, que pode envolver cirurgia, radioterapia e quimioterapia, é eficaz em 70% a 80% dos casos detectados precocemente, mas a mortalidade sobe para 50% em estágios avançados, destaca o Inca.

A alta de casos reflete mudanças sociais e biológicas. O aumento da prevalência do HPV, ligado a práticas sexuais mais diversas e ao maior número de parceiros ao longo da vida, é um fator chave. Além disso, a sobrevida de pessoas com HIV, graças aos avanços no tratamento antirretroviral, elevou a incidência de cânceres associados ao vírus, como o anal. É uma epidemia silenciosa que estamos começando a enxergar, alerta Silva.

Para reverter o quadro, especialistas defendem um esforço conjunto: ampliar a vacinação, incluir homens e mulheres adultos em campanhas públicas e incentivar o rastreamento com exames como a anuscopia em grupos de risco, como pessoas vivendo com HIV ou com histórico de HPV. A vacina é a principal arma, mas a educação e o diagnóstico precoce são fundamentais, diz Ribeiro. O Ministério da Saúde anunciou nesta semana planos para uma campanha nacional em abril, focada em jovens e pais, mas ainda não detalhou estratégias para faixas etárias mais velhas.

Enquanto o câncer anal ganha visibilidade, a mensagem é clara: a prevenção está ao alcance. Com a vacina como escudo e mais conscientização, o Brasil pode frear essa curva ascendente, transformando um cenário preocupante em uma história de sucesso na saúde pública. É uma questão de escolha e ação. Podemos evitar isso, conclui Silva.

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